Será que a não monogamia é a solução para relacionamentos leves?

Não Monogamia, Poliamor e Exclusividade: Como Lidar com Diferentes Limites em Relacionamentos


Nos últimos anos, a discussão sobre não monogamia e poliamor tem ganhado cada vez mais espaço nas redes sociais, na mídia e até mesmo nas rodas de conversa entre amigos. Mas afinal, o que essas práticas significam, e para quem elas realmente funcionam? A resposta não é simples, porque relacionamentos são profundamente pessoais e cada pessoa tem valores, limites e necessidades emocionais diferentes.


O que é não monogamia e poliamor

Antes de tudo, é importante entender os conceitos. A não monogamia ética envolve relacionamentos em que todas as partes sabem e consentem que alguém se envolva afetiva ou sexualmente com mais de uma pessoa. Dentro desse conceito, temos o poliamor, que é a prática de se relacionar com múltiplos parceiros ao mesmo tempo, de maneira consensual e transparente.

Ao contrário do que muitos imaginam, não monogamia não é sobre falta de compromisso ou imoralidade, mas sim sobre acordos claros, comunicação e respeito. No entanto, quando esses princípios não são respeitados, como em casos de infidelidade, a experiência pode gerar sofrimento, ciúmes e insegurança.


Exemplos reais de desafios emocionais

Para ilustrar, considere o caso de um amigo meu que ficou com uma garota que tinha namorado. Eles se conheceram por um aplicativo de relacionamento, e a situação parecia divertida e consensual entre os dois. Meu amigo foi até a casa dela, e “rolou legal”. No entanto, o namorado dela sabia do envolvimento, mas, por não conseguir ficar com outra mulher que queria, começou a ligar e pedir que meu amigo fosse embora, tentando atrapalhar a noite da namorada. Esse episódio mostra que, mesmo em relacionamentos que se dizem não monogâmicos, ciúmes, competição e insegurança podem surgir, interferindo na experiência de forma inesperada.

No meu caso pessoal, me envolvi com um homem que se considera não monogâmico. Ele tentou me convencer de que esse modelo de relacionamento era “o melhor caminho”, mesmo sabendo que eu não tenho interesse em ficar com outras pessoas. Eu gosto dele, mas tenho medo de me machucar emocionalmente, porque desejo exclusividade. Ele chegou a comentar que eu teria “ego elevado” por ser monogâmica, uma forma de desqualificar minha escolha e tentar me persuadir.

Esses exemplos revelam um ponto crucial: gostar de alguém que pratica não monogamia não significa que você precisa abrir mão do que te faz bem emocionalmente. Pelo contrário, conhecer seus próprios limites é essencial para não se sentir frustrada, insegura ou pressionada.

Por que se fala tanto em não monogamia hoje

O aumento das discussões sobre não monogamia e poliamor está relacionado a mudanças culturais, sociais e midiáticas. A sociedade atual valoriza mais a liberdade individual e o questionamento de normas tradicionais, e as redes sociais permitem que pessoas compartilhem suas experiências de forma aberta. Além disso, filmes, séries e documentários retratam histórias de relações abertas, despertando curiosidade e normalizando essas práticas.

Outro fator é a insatisfação de algumas pessoas com modelos tradicionais de relacionamento. Nem todos se sentem realizados em relações monogâmicas, e a não monogamia aparece como uma alternativa para explorar afetividade e sexualidade de forma mais flexível. No entanto, isso não significa que seja a solução para todos, nem que todos os que se consideram de esquerda, feministas ou progressistas devam praticá-la.


Quando vale a pena tentar a não monogamia

A não monogamia só funciona de forma saudável quando há autoconhecimento, comunicação clara e consentimento de todos os envolvidos. Vale a pena considerar esse modelo se você:

  • Sente curiosidade genuína de explorar outras conexões sem sentir ciúmes extremos.
  • Está emocionalmente preparada para lidar com inseguranças e comparações.
  • Tem habilidades de comunicação e negociação para definir limites claros.
  • Todos os parceiros concordam e se sentem confortáveis com o arranjo.

Por outro lado, não vale a pena tentar se você:

  • Quer exclusividade e se sente desconfortável com a ideia de seu parceiro se envolver com outros.
  • Não consegue lidar com ciúmes ou ansiedade intensa.
  • Está sendo pressionada pelo parceiro a aceitar algo que te machuca.

A chave é a reflexão consciente sobre seus desejos e limites, sem ceder a pressões externas ou opiniões alheias.


Lidando com ciúmes e diferenças de limites

Mesmo dentro de relacionamentos não monogâmicos éticos, o ciúme pode aparecer, porque sentimentos de insegurança são naturais. A diferença está em como você lida com eles: por meio de comunicação aberta, empatia e respeito mútuo. Se você percebe que não consegue lidar com a situação, isso não é uma falha sua, apenas indica que esse modelo não é compatível com o que você precisa para se sentir segura e valorizada.


Conclusão

Em resumo, a não monogamia e o poliamor podem ser opções interessantes para quem deseja liberdade afetiva e sexual e tem maturidade emocional para lidar com os desafios. Porém, elas não são obrigatórias, nem uma solução universal para relacionamentos leves. Cada pessoa deve avaliar seus próprios limites, desejos e valores. Gostar de alguém não significa abrir mão do que é essencial para seu bem-estar emocional, e respeitar seus limites é sempre a prioridade.

Antes de decidir explorar a não monogamia, faça um exercício de reflexão: avalie seu conforto com exclusividade, ciúmes e comunicação aberta. Só assim você poderá tomar uma decisão consciente e saudável, sem se machucar emocionalmente ou comprometer sua segurança afetiva.

Este artigo foi escrito por:​

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Caroline Peres

No Amiga Pra Contar, sou apenas a voz que escreve o que muitas vezes fica guardado. A escrita se tornou minha forma de companhia e, aos poucos, se transformou em um convite para que outros se sintam menos sozinhos. Cada palavra nasce do desejo de compartilhar um pouco de empatia, de compreensão e de presença, sem pressa, sem julgamentos, apenas com cuidado.

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